sábado, 12 de novembro de 2011

Os olhos da Serpente

Os olhos da Serpente
Victor Ciriaco







Na manha fria de inverno,
Sobre as águas tranqüilas do lago escuro,
A luz da manha mais uma vez é refletida sobre o brilho das folhas

Abro meus olhos,
Levanto-me mais uma vez, lembro-me dos sonhos da noite que se passou
A floresta me acolhe com o calor de minhas próprias raízes
Um bálsamo com o sabor de meu lar perdido há eras através de minhas palavras jogadas ao vento

Percorro vendado sobre os caminhos do jardim proibido,
Da terra que meu devaneio me guiou,
Como estou farto e grato por escutar o som da floresta,
Mediante ao eterno silêncio em que meu coração se encontra

Por quanto tempo devo percorrer esse caminhar blasfemo no labirinto da serpente?
Sinto que o beijo que me deu, oh víbora vil, naquela noite majestosa,
Banhados pela cachoeira estrelada, contemplados pelos deuses de nossos sonhos
Só serviu para afogar-me em seu doce e infame veneno

Enquanto caio, sinto suas presas invadindo minha alma nessa selva de sonhos partidos,
Espero por sua promessa quebrada enquanto sua terna peçonha faz meu espírito vagar livre,

Ainda me lembro da primeira noite em que andei por essas terras soturnas
Pensava poder atravessar meu caminho ileso,
Porem, não há trilha segura... Não existe caminho que não me levasse até seu misterioso e belo covil.

Os olhos da deslumbrante serpente trajada no torso de ti mulher,
Mostrava o espelho de meu mundo, enquanto sua língua era enrolada em meu pescoço,
E eu vi, naquela noite fria o quão assombrosa era minha insignificância mediante aos astros do céu,
Seus lindos e rajados olhos refletiam toda a imperfeição de meus próprios olhos,
Olhos esses que pensaram um dia em contemplar a misteriosa serpente da vida

Enquanto me encontrava seduzido por sua dança através de meu corpo,
Extasiado por tudo que a infinita serpente pode me proporcionar na forma de um belo romance
Sinto o frio final, vejo os céus se desenrolarem eternamente como uma cortina púrpura
Mediante ao terror acido que se encerra.

Suplico a ti minha adorada víbora,
Que uma dia venha até mim com  a dor venenosa mais uma vez,
Beije-me e me enrole em seu corpo envolto em escamas para que assim eu não respire mais,
Venha com o fim sublime, para que nossas tristezas acabem para que possamos planar nas estrelas que banham essa floresta,
E que nossos corações se unam e que para sempre haja paz.

Fecho minha essência através dos teus olhos minha doce serpente
Pois perdi para sempre meu sol,
E agora começarei minha busca eterna pela lua.